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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Segunda avaliação: Seminários (A literatura de Moçambique) (cont.)


A forma de expressão literária de Moçambique é bastante libertária, zela pela cultura local e pela valorização dos costumes. É, geralmente, escrita em língua portuguesa - vulgarmente misturada com expressões moçambicanas -, por autores moçambicanos. É ainda muito jovem, mas já conta com representantes consagrados como José Craveirinha, Paulina Chiziane e Mia Couto, sendo vital na exigente Literatura Lusófona.

Dentre tantos bons escritores Moçambicanos, iremos destacar aqui apenas os três já mencionados, que seriam os de maior visibilidade:

Paulina Chiziane

Paulina Chiziane (Manjacaze, Gaza, 4 de Junho 1955) é uma escritora moçambicana que cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola, em uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso. Participou ativamente da cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras
. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as diretivas políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista-leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade econômica da mulher, no entanto não se classifica como feminista.

"Descrever o mundo não significa absolutamente nada, não significa que se seja machista ou feminista. Escrevo porque acho que devo. Só isso."

Mesmo tendo a mulher como protagonista nos romances que escreveu, e estar habituada com esse universo, a escritora explica antes que o mote para a sua literatura nasce de uma sensibilidade particular e não de uma afirmação feminista.
Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance.
Paulina vive e trabalha na Zambézia.
Suas obras podem ser encontradas em livrarias de todo o Brasil, são elas:
  • Balada de Amor ao Vento (1990)
  • Ventos do Apocalipse. (1993)
  • O Sétimo Juramento.(2000)
  • Niketche: Uma História de Poligamia.(2002)
  • O Alegre Canto da Perdiz.(2009)


José Craveirinha

José Craveirinha nasceu a 28 de Maio de 1922, em Lourenço Marques (actual Maputo), e faleceu a 6 de Fevereiro de 2003, na África do Sul. Entre 1964 e 1968 esteve preso, acusado de ligação à FRELIMO, conhecendo na prisão o pintor Malangatana. Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987.Foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 1991.
Mas, deixemos que ele mesmo fale de si, o que fez poéticamente em um depoimento autobiografico:

"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José.
Aonde? Na Av. do Zichacha entre o A
lto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstancias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra.
Nasci ainda mais uma vez no jornal "O Brado Africano". No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por causa da minha mãe só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite."
(Depoimento autobiográfico, Janeiro de 1977)
Um pouco de sua obra:

Poema do futuro cidadão

Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda não existe.
Vim e estou aqui!

Não nasci apenas eu
nem tu nem outro...
mas irmão.
Mas
tenho amor para dar às mãos-cheias.
Amor do que sou
e nada mais.

E
tenho no coração
gritos que não são meus somente
porque venho dum país que ainda não existe.

Ah! Tenho meu amor à rodos para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
cidadão de uma nação que ainda não existe.


Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

Facilmente se percebe o quanto sua poesia está relacionada com a cor, a cultura e a nação, "que ainda nào existe" pelo simples fato de nao ter sido reconhecida como tal, segundo sua (as) lingua (as), seus costumes, segundo sua alma de naçãoo, o que o poeta canta resgatando o que, por um momento, pensou-se ter sido esquecido, mas que vivia em cada um dos homens e mulheres daquela terra tão rica e amada: Moçambique.












Mia Couto

Nasceu em 5 de julho de 1955, filho de portugueses que chegaram em Moçambique em meados do sèculo XX. Jà com catorze anos de idade teve alguns poemas publ
icados. Começou a estudar medicina mas logo desistiu para trabalhar como jornalista.
Além de ser considerado um dos autores mais importantes de Moçambique, é o escritor mais traduzido (alemào, frances, espanhol, catalào, ingles e italiano) e seus l
ivros sào publicados em mais de 22 paises. Em muitas de suas obras, Couto tenta recriar a lingua portuguesa com uma influencia moçambicana, utilizando o lèxico de vàrias regioes do pais e
produzindo um novo modelo de narrativa africana.

"A nossa lingua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto" Mia Couto

Na poesia entreou com um livro chamado Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Nos meados dos anos 80, Mia Couto estreou nos contos numa nova maneira de falar o portugues. Nesta categoria publicou.
  • Vozes Anoitecidas;
  • Cada Homem é uma Raça;
  • Estorias Abensonhadas;
  • Contos do Nascer da Terra;
  • Na Berma de Nenhuma Estrada;
  • O Fio das Missangas.

Crônicas

Para além disso, publicou em livros algumas das suas crônicas, que continuam a ser coluna num dos semanários publicados em Mputo, capital de Moçambique:

  • Crônicando
  • O País do Queixa Andar
  • Pensatempos. Textos de Opinião
  • E se Obama fosse Africano? e Outras Interinvenções

Romances

E, naturalmente, não deixou de lado o género romance, tendo publicado:

  • Terra Sonâmbula (1992) --- considerado por um juri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX.
  • A Varanda do Frangipani Mar Me Quer (1996)
  • Vinte e Zinco (1999)
  • O Último Vôo do Flamingo (2000)
  • O Gato e o Escuro (2001)
  • Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra(2002) --- rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira
  • A Chuva Pasmada (2004), com ilustrações de Danuta Wojciechowska
  • O Outro Pé da Sereia (2006)
  • O beijo da palavrinha, com ilustrações de Malangatana (2006)
  • Venenos de Deus, Remédios do Diabo ( 2008)
  • Jesusalém [no Brasil, o livro tem como título Antes de nascer o mundo] (2009).


Segunda avaliação: Seminários (A literatura de Moçambique)


Na aula do dia 19.05 foi a apresentado um trabalho sobre a Literatura de Moçambique, o grupo formado por Marilia Meirelles, Ígaro Cardoso, Enoo Miranda e Alcides Vieira. E no espaço desse Blog gostaria de expor algo sobre esta cultura literária tão rica e resistente.

E para entender essa produção literária convém conhecer um pouco da cultura e historia desse país.

Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi uma colónia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975.


A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.

No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos bantu que, não só eram agricultores, como introduziram a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV.

A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - transformou-se numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.

O Estado Novo

Com a "eleição" de Óscar Carmona, em 1928, que chamou Salazar para seu ministro das finanças, a administração das colónias como fonte de matérias-primas para a indústria da "metrópole" tornou-se mais eficiente. Em 1930 foi publicado o Acto Colonial, legislação que organizava o papel do estado nas colónias portuguesas:

A nomeação de administradores para as circunscrições "indígenas", que passaram a organizar os seus pequenos exércitos de sipaios;

Os recenseamentos que determinavam a cobrança de impostos e a "venda" de mão-de-obra para as minas sul-africanas;

A criação de "Tribunais Privativos dos Indígenas";

A definição da Igreja Católica como principal força "civilizadora" dos indígenas, passando a ser a principal forma de educação.

Depois, com a nova constituição portuguesa em 1933, Salazar e os seus braços nas colónias transportaram para África (e Índia) a repressão mais brutal sobre os indígenas, ao mesmo tempo que incentivavam os seus cidadãos mais pobres a emigrarem para essas terras. Até os anos 60, instalaram-se nas colónias portuguesas centenas de milhares de colonos e deu-se início a alguma industrialização.

A Guerra de Libertação

Para além das várias ações de resistência ao domínio colonial, a última das quais culminou com a prisão e deportação do imperador Gungunhana, a fase final da luta de libertação de Moçambique começou com a independência das colónias francesas e inglesas da África. Em 1959-1960, formaram-se três movimentos formais de resistência à dominação portuguesa de Moçambique:

UDENAMO - União Democrática Nacional de Moçambique;

MANU - Mozambique African National Union (à maneira da KANU do Quénia); e

UNAMI - União Nacional Africana para Moçambique Independente.

Estes três movimentos tinham sede em países diferentes e uma base social e étnica também diferentes mas, em 1962, sob os auspícios de Julius Nyerere, primeiro presidente da Tanzânia, estes movimentos uniram-se para darem origem à FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique - oficialmente fundada em 25 de Junho de 1962.

O primeiro presidente da FRELIMO foi o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane, um antropólogo que trabalhava na ONU e que já tinha tido contatos com um governante português, Adriano Moreira. Nesta altura, ainda se pensava que seria possível conseguir a independência das colónias portuguesas sem recorrer à luta armada.

No entanto, os contatos diplomáticos estabelecidos não resultaram e a FRELIMO decidiu entrar pela via da guerra de guerrilha para tentar forçar o governo português a aceitar a independência das suas colónias. A Luta Armada de Libertação Nacional foi lançada oficialmente em 25 de Setembro de 1964, com um ataque ao posto administrativo de Chai no então distrito e, mais tarde, província de Cabo Delgado.

A guerra de libertação, uma luta de guerrilha, expandiu-se para as províncias de Niassa e Tete e durou cerca de 10 anos. Durante esse período, foram organizadas várias áreas onde a administração colonial já não tinha controle - as Zonas Libertadas - e onde a FRELIMO instituiu um sistema de governo baseado na sua necessidade em ter bases seguras, abastecimento em víveres e vias de comunicação com as suas bases recuadas na Tanzânia e com as frentes de combate.

Finalmente, a guerra terminou com os Acordos de Lusaka, assinados a 7 de Setembro de 1974 entre o governo português e a FRELIMO, na sequência da Revolução dos Cravos. Ao abrigo desse acordo, foi formado um Governo de Transição, chefiado por Joaquim Chissano, que incluía ministros nomeados pelo governo português e outros nomeados pela FRELIMO. A soberania portuguesa era representada por um Alto-comissário, que foi Víctor Crespo.

História Pós-Independência

Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de Junho de 1975. O primeiro governo, dirigido por Samora Machel, foi formado pela FRELIMO.

As nacionalizações

O mandato deste primeiro governo de Moçambique independente era o de restituir ao povo moçambicano os direitos que lhe tinham sido negados pelas autoridades coloniais.

Com esse fim, em 24 de Julho de 1975, o governo declarou a nacionalização da Saúde, da Educação e da Justiça e, em 1976, das casas de rendimento, ou seja, qualquer moçambicano ou estrangeiro residente passou a ter direito a ser proprietário duma casa para habitação permanente e de uma de férias, mas perdeu o direito a arrendar casas de habitação a outra pessoa. O governo assumiu a gestão das casas que estavam arrendadas nessa altura, formando para isso uma empresa denominada Administração do Parque Imobiliário do Estado ou APIE.

Em relação à Saúde, o governo transferiu para as unidades estatais (Ministério e hospitais), o equipamento e pessoal dos consultórios e clínicas privadas e das empresas de funerais. Na Educação, o estado nomeou administradores para as escolas privadas, cujo pessoal passava à responsabilidade do Estado. Muitas das unidades privadas de saúde e educação pertenciam a igrejas cristãs, principalmente à Igreja Católica, e estas nacionalizações, associadas à propaganda oficial socialista e fortemente laica, também considerada como "anti-religiosa", criaram um clima de animosidade entre algumas destas igrejas e seus crentes e o estado (ou a FRELIMO, que era de fato a força política que comandava o estado).

Estas nacionalizações foram a causa próxima para uma vaga de abandono do país de muitos indivíduos que eram proprietários daqueles serviços sociais ou simplesmente se encontravam habituados aos serviços de determinados especialistas ou ao atendimento exclusivo; como esses indivíduos, na maioria portugueses, eram muitas vezes igualmente proprietários de fábricas, barcos de pesca ou outros meios de produção, o governo viu-se obrigado a assumir a gestão dessas unidades de produção. Numa primeira fase, organizou-se, para as unidades mais pequenas, um sistema de auto gestão em que comités de trabalhadores, normalmente organizados pelas células da FRELIMO, também chamadas Grupos Dinamizadores, assumiam a gestão de fato.

Mais tarde, em face da falta de capacidade de gestão e das dificuldades económicas prevalecentes, o governo começou a aglutinar pequenas empresas do mesmo ramo, primeiro em Unidades de Direcção e depois em Empresas Estatais.

A língua oficial de Moçambique é o português, por advento da colonização, mas é língua materna de apenas 6% da população, segundo um senso realizado em 1997. Entretanto o Estado valoriza as línguas nacionais e promove o seu desenvolvimento e uso crescente como línguas veiculares e na educação dos cidadãos. Em Moçambique foram identificadas diversas línguas nacionais, todas de origem bantu, sendo que as principais são: cicopi, cinyanja, cinyungwe, cisena, cisenga, cishona, ciyao, echuwabo, ekoti, elomwe, gitonga, maconde (ou shimakonde), kimwani, macua (ou emakhuwa), memane, suaíli (ou kiswahili), suazi (ou swazi), xichangana, xironga, xitswa e zulu. o que mostra a pluralidade linguistica-cultural existente no país.

sábado, 21 de maio de 2011

Segunda avaliação: Seminários

Na semana passada, mais expecificamente na quinta-feira, dia 12 de maio, foi dado início às apresentações dos seminários da disciplina de Literatura Portuguesa II, turma do 5º período de Letras, de onde serão dadas as notas da segunda avaliação.

A primeira equipe apresentou seu trabalho sobre a Revista Presença, uma revista portuguêsa que surgiu com a intenção de divulgar os poetas portugueses, fazer intercambio com os poetas brasileiros e sem comprometimento algum com o social e político. Diferetemente do convencional, a equipe abordou esse tema falando a partir dos diretores da revista na época. Sua primeira direção foi com Branquinho da Fonseca, que com o ideal de liberdade criativa, decide fundar a revista sem se preocupar com os academicismos, porém, com o passar do tempo, a revista foi tomando um rumo diferente da que o criador pretendia para ela e decide deixar a direção da revista. Logo após esse fato, Casais Monteiro, um dos filósofos mais importante do século XX, assume a direção da Revista Presença que divulgava as ideias do grupo Presencista (movimento que marcou a segunda geração do modernismo e que pretendia buscar uma literatura orginal, espontânea).
Equipe: Antonio, Cristina, Eraldo, Eudes e Josineide.

Na mesma noite, o segundo grupo apresenta um belo trabalho sobre Sophia de Mello Breyner Andersen, uma importante poetisa da literatura portuguesa. A partir do poema "Não se perdeu nenhuma coisa em mim", a equipe começa a falar da biografia da dinamarquesa, apresentando todos os inúmeros prêmios que ela conquistou ao logo se sua vida. A equipe nos chama atenção ao fato de que Sophia não foi uma escritora bohemia, ao contrário, ela era casada com o jornalista Francisco José de Souza Tavares e mãe de cinco filhos; Ela buscava inspiração no mar, na infância, na cidade e pelo fato de ser mãe, se viu com inspiração para criar livros infantis também. Sophia era uma poetisa que tinha uma vida "certinha" e por isso chega a viver 84 anos.
Equipe: Klecya, Letícia, Mª Edna, M ª Emília, Suzana e Viviane.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Fado

A palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino", é a mesma palavra que deu origem às palavras fada, fadario, e "correr o fado".

Casa de Fado (1946)

Provavelmente você já notou que o blog recebe sua visita com músicas. Algumas delas representam o Fado, que é um estilo musical tipicamente português.

Uma explicação popular para a origem do Fado de Lisboa remete para os cânticos dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, na cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, bastante comuns no Fado, teriam sido herdadas daqueles cânticos. Porém, essa explicação é ingénua de uma perspectiva etnomusicológica, já que não existem registos do fado até ao início do século XIX. Outras teorias apontam para a origem do Fado no lundum, música dos escravos brasileiros que teria chegado até nós através dos marinheiros, em meados de 1820. Outra hipótese remete para os trovadores medievais cujas canções têm características que o fado conserva as cantigas de amigo revelam semelhanças com alguns temas recorrentes do Fado de Lisboa, assim como as cantigas de amor possuem o romantismo do Fado de Coimbra. As críticas política e social, tão típicas do Fado, estão em evidência nas cantigas de escárnio e maldizer.

Geralmente o Fado é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa. Os temas mais recorrentes passam pelo amor, a tragédia, as dificuldades da vida, e a saudade, daí que surge o seu tom triste e lamentoso. A ideia do destino (fatum) como uma força implacável que está para além da vontade humana é essencial para a compreensão deste estilo musical.

Exemplos de fadistas reconhecidos são Maria Severa, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Fernando Maurício, Hermínia Silva, Lucilia do Carmo, Maria Teresa de Noronha, Antonio Mourão, Rodrigo, Tristão de Silva e Maria Alice. Nas décadas de 80 e 90, novas gerações surgiram, se destacando Nuno da Câmara Pereira, Camané, Dulce Pontes, etc.

Amália (Rodrigues), arte de rua em Lisboa.

Assim, para ilustrar, uma música de Dulce Pontes, chamada Fado Português:

O fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava
Na amurada de um veleiro
No peito de um marinheiro
Que estando triste cantava

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro

Na boca de um marinheiro
No frágil barco veleiro
Cantando a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar e mais nada

Mãe adeus, adeus Maria
Guarda bem o teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que eu te leve à sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dai-me no mar sepultura

Ora eis que embora outro dia
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava
A proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que estando triste cantava

Se quiser ouvir, é só clicar aqui.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Poeta que pesquisa - (Série Novos Lusitanos)


Nascida em Lisboa , Ana Luísa Amaral dedica sua vida à Língua e Literatura.
Docente de Literatura Inglesa no Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras do Porto, é doutorada em Literatura Norte-Americana, com uma tese sobre Emily Dickinson. Tem publicações acadêmicas (em Portugal e no estrangeiro) nas áreas de Literatura Inglesa, Literatura Norte-Americana, Literatura Portuguesa e Literatura Comparada. Passou dois anos (entre 1991 e 1993) na Universidade de Brown (E.U.A.) como Investigadora Convidada do Departamento de Inglês daquela Universidade. É Investigadora Associada do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra. No âmbito de um projeto desse Centro, preparou, em colaboração com Ana Gabriela Macedo, um dicionário português de termos feministas.
Ana Luísa possui muitos livros de poesias, literatura infantil, e de traduções, publicados.

Logo abaixo temos um vídeo que encontrei no Youtube em sua homenagem. No início temos a voz da propria poeta lendo um segmento de 'Salomé después del Crimen'. Logo após, a cantora Clara Ghimel musicaliza e canta versos de Ana Luisa Amaral.





Ana Luísa ganhou vários prêmios literários de prestígio em Portugal, entre eles o prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de escritores em 2008.

Abaixo, um de seus poemas mais bonitos.

Um céu e nada mais

Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
ímplodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais -que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.

Com Afeto, =)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Dispersão - Mário de Sá-Carneiro



Primeiro livro de poesias de Sá-Carneiro, poeta de dispersão interior, Dispersão revela logo no título a dificuldade de concentração, a pluralidade de opções com que o seu interior se confrontava, anunciando já o termo trágico que daria à sua vida. Contém 12 poemas e é a busca do ideal inacessível, o mundo de sonhos onde o poeta se sente bem:

Um pouco mais de sol eu era brasa.
Um pouco mais de azul – eu era além;
E o grande sonha despertado em bruma,
O grande sonha – ó dor! – quase vivido...

Dispersão e Além-Tédio são poemas significativos da tristeza, exprimem o tédio endurecido e a dor "de ser-quase" que o faz ter saudades da morte. A propósito dos poemas de Dispersão, o poeta não se integra no mundo, o que lhe causa por vezes um sofrimento de morte. Sá-Carneiro seria destruído pela sua poesia e em proveito dela.

O dualismo de Sá-Carneiro revela-se também através da oposição, antítese, na definição de si mesmo, na impossibilidade de reconciliação entre o poeta e o mundo, entre a alma e o corpo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
– Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse – ou homem ou mulher,
E não logro nunca possuir.

Eis a confissão de Ricardo a Lúcio explicitada no poema Como eu não possuo. Ricardo confessa ainda: estes desejos materiais (...) não julgue que os sinto na minha carne; sinto-os na minha alma. Está aqui bem nítida essa impossibilidade de reconciliação entre a alma e o corpo. Esta dicotomia integral conduzirá fatalmente à dispersão. Em Mário de Sá-Carneiro tudo é brumoso, difuso, velado, tosco, nevoento, tudo é tarde, crepúsculo, poente, fim de dia, noite, sombras, trevas, numa palavra mistério. Os próprios títulos indicam uma atmosfera nebulosa, mal definida:

Intersonho, Vontade de dormir, Dispersão, Quase, Alem- Tédio.

O primeiro poema de Dispersão, intitulado Partida, exprime o supra-eu do poeta, o seu ideal, a promessa de grandeza e do gênio que se sente em si. Já neste poema Sá-Carneiro toma consciência da dicotomia dispersiva do seu ser. Temos no poema:

Ao triunfo maior, avante pois!
O meu destino e outro – é alto e é raro.
Unicamente custa muito caro:
A tristeza de nunca sermos dois.

No livro Dispersão ainda se notam ressaibos de expressão simbolista. Contudo, é já um livro moderno pela atenção que da ao existencial. Verificamos ao longo do livro o desespero do poeta causado pela dicotomia de não conseguir alcançar o celeste, o divino, o ideal. Assim, a sua alma está nostálgica de além. Patente está também o desespero de não se adaptar à vida, porque um domingo é família, / É bem-estar, é singeleza,! E os que olham a beleza / Não têm bem-estar nem família. A busca e a dispersão de si mesmo são a linha de conduta de todo o livro. O poeta, num desabafo desesperante, diz: Perdi-me dentro de mim / Porque eu era labirinto, / E hoje, quando me sinto, / E com saudades de mim. A dor de não ser quase e o desejo de equilíbrio também estão presentes, assim como o narcisismo enternecido que por fim se transformara em desprezo e o levará a dizer: O pobre moço das ânsias... / Tu, sim, tu eras alguém! / E foi por isso também / Que te abismaste nas ânsias.

Na essência da sua poesia surge a busca do seu ideal de poeta, a renuncia que dele exige. Tudo constitui um mundo de dúvidas, de ânsias, de angustias. A poesia de Sá-Carneiro nasceu madura, na plena posse dos seus recursos.