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terça-feira, 10 de maio de 2011

O Fado

A palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino", é a mesma palavra que deu origem às palavras fada, fadario, e "correr o fado".

Casa de Fado (1946)

Provavelmente você já notou que o blog recebe sua visita com músicas. Algumas delas representam o Fado, que é um estilo musical tipicamente português.

Uma explicação popular para a origem do Fado de Lisboa remete para os cânticos dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, na cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, bastante comuns no Fado, teriam sido herdadas daqueles cânticos. Porém, essa explicação é ingénua de uma perspectiva etnomusicológica, já que não existem registos do fado até ao início do século XIX. Outras teorias apontam para a origem do Fado no lundum, música dos escravos brasileiros que teria chegado até nós através dos marinheiros, em meados de 1820. Outra hipótese remete para os trovadores medievais cujas canções têm características que o fado conserva as cantigas de amigo revelam semelhanças com alguns temas recorrentes do Fado de Lisboa, assim como as cantigas de amor possuem o romantismo do Fado de Coimbra. As críticas política e social, tão típicas do Fado, estão em evidência nas cantigas de escárnio e maldizer.

Geralmente o Fado é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa. Os temas mais recorrentes passam pelo amor, a tragédia, as dificuldades da vida, e a saudade, daí que surge o seu tom triste e lamentoso. A ideia do destino (fatum) como uma força implacável que está para além da vontade humana é essencial para a compreensão deste estilo musical.

Exemplos de fadistas reconhecidos são Maria Severa, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Fernando Maurício, Hermínia Silva, Lucilia do Carmo, Maria Teresa de Noronha, Antonio Mourão, Rodrigo, Tristão de Silva e Maria Alice. Nas décadas de 80 e 90, novas gerações surgiram, se destacando Nuno da Câmara Pereira, Camané, Dulce Pontes, etc.

Amália (Rodrigues), arte de rua em Lisboa.

Assim, para ilustrar, uma música de Dulce Pontes, chamada Fado Português:

O fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava
Na amurada de um veleiro
No peito de um marinheiro
Que estando triste cantava

Ai que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutas de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro

Na boca de um marinheiro
No frágil barco veleiro
Cantando a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar e mais nada

Mãe adeus, adeus Maria
Guarda bem o teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que eu te leve à sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dai-me no mar sepultura

Ora eis que embora outro dia
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava
A proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que estando triste cantava

Se quiser ouvir, é só clicar aqui.

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