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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Segunda avaliação: Seminários (A literatura de Moçambique) (cont.)


A forma de expressão literária de Moçambique é bastante libertária, zela pela cultura local e pela valorização dos costumes. É, geralmente, escrita em língua portuguesa - vulgarmente misturada com expressões moçambicanas -, por autores moçambicanos. É ainda muito jovem, mas já conta com representantes consagrados como José Craveirinha, Paulina Chiziane e Mia Couto, sendo vital na exigente Literatura Lusófona.

Dentre tantos bons escritores Moçambicanos, iremos destacar aqui apenas os três já mencionados, que seriam os de maior visibilidade:

Paulina Chiziane

Paulina Chiziane (Manjacaze, Gaza, 4 de Junho 1955) é uma escritora moçambicana que cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola, em uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso. Participou ativamente da cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. Deixou, todavia, de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras
. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as diretivas políticas do partido Frelimo pós-independência, sobretudo em termos de políticas filo-ocidentais e ambivalências ideológicas internas do partido, quer pelo que diz respeito às políticas de mono e poligamia, quer pelas posições de economia política marxista-leninista, ou ainda pelo que via como suas hipocrisias em relação à liberdade econômica da mulher, no entanto não se classifica como feminista.

"Descrever o mundo não significa absolutamente nada, não significa que se seja machista ou feminista. Escrevo porque acho que devo. Só isso."

Mesmo tendo a mulher como protagonista nos romances que escreveu, e estar habituada com esse universo, a escritora explica antes que o mote para a sua literatura nasce de uma sensibilidade particular e não de uma afirmação feminista.
Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance.
Paulina vive e trabalha na Zambézia.
Suas obras podem ser encontradas em livrarias de todo o Brasil, são elas:
  • Balada de Amor ao Vento (1990)
  • Ventos do Apocalipse. (1993)
  • O Sétimo Juramento.(2000)
  • Niketche: Uma História de Poligamia.(2002)
  • O Alegre Canto da Perdiz.(2009)


José Craveirinha

José Craveirinha nasceu a 28 de Maio de 1922, em Lourenço Marques (actual Maputo), e faleceu a 6 de Fevereiro de 2003, na África do Sul. Entre 1964 e 1968 esteve preso, acusado de ligação à FRELIMO, conhecendo na prisão o pintor Malangatana. Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987.Foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 1991.
Mas, deixemos que ele mesmo fale de si, o que fez poéticamente em um depoimento autobiografico:

"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José.
Aonde? Na Av. do Zichacha entre o A
lto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstancias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra.
Nasci ainda mais uma vez no jornal "O Brado Africano". No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por causa da minha mãe só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite."
(Depoimento autobiográfico, Janeiro de 1977)
Um pouco de sua obra:

Poema do futuro cidadão

Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda não existe.
Vim e estou aqui!

Não nasci apenas eu
nem tu nem outro...
mas irmão.
Mas
tenho amor para dar às mãos-cheias.
Amor do que sou
e nada mais.

E
tenho no coração
gritos que não são meus somente
porque venho dum país que ainda não existe.

Ah! Tenho meu amor à rodos para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
cidadão de uma nação que ainda não existe.


Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

Facilmente se percebe o quanto sua poesia está relacionada com a cor, a cultura e a nação, "que ainda nào existe" pelo simples fato de nao ter sido reconhecida como tal, segundo sua (as) lingua (as), seus costumes, segundo sua alma de naçãoo, o que o poeta canta resgatando o que, por um momento, pensou-se ter sido esquecido, mas que vivia em cada um dos homens e mulheres daquela terra tão rica e amada: Moçambique.












Mia Couto

Nasceu em 5 de julho de 1955, filho de portugueses que chegaram em Moçambique em meados do sèculo XX. Jà com catorze anos de idade teve alguns poemas publ
icados. Começou a estudar medicina mas logo desistiu para trabalhar como jornalista.
Além de ser considerado um dos autores mais importantes de Moçambique, é o escritor mais traduzido (alemào, frances, espanhol, catalào, ingles e italiano) e seus l
ivros sào publicados em mais de 22 paises. Em muitas de suas obras, Couto tenta recriar a lingua portuguesa com uma influencia moçambicana, utilizando o lèxico de vàrias regioes do pais e
produzindo um novo modelo de narrativa africana.

"A nossa lingua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rasto" Mia Couto

Na poesia entreou com um livro chamado Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Nos meados dos anos 80, Mia Couto estreou nos contos numa nova maneira de falar o portugues. Nesta categoria publicou.
  • Vozes Anoitecidas;
  • Cada Homem é uma Raça;
  • Estorias Abensonhadas;
  • Contos do Nascer da Terra;
  • Na Berma de Nenhuma Estrada;
  • O Fio das Missangas.

Crônicas

Para além disso, publicou em livros algumas das suas crônicas, que continuam a ser coluna num dos semanários publicados em Mputo, capital de Moçambique:

  • Crônicando
  • O País do Queixa Andar
  • Pensatempos. Textos de Opinião
  • E se Obama fosse Africano? e Outras Interinvenções

Romances

E, naturalmente, não deixou de lado o género romance, tendo publicado:

  • Terra Sonâmbula (1992) --- considerado por um juri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX.
  • A Varanda do Frangipani Mar Me Quer (1996)
  • Vinte e Zinco (1999)
  • O Último Vôo do Flamingo (2000)
  • O Gato e o Escuro (2001)
  • Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra(2002) --- rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira
  • A Chuva Pasmada (2004), com ilustrações de Danuta Wojciechowska
  • O Outro Pé da Sereia (2006)
  • O beijo da palavrinha, com ilustrações de Malangatana (2006)
  • Venenos de Deus, Remédios do Diabo ( 2008)
  • Jesusalém [no Brasil, o livro tem como título Antes de nascer o mundo] (2009).


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